sexta-feira, 9 de maio de 2025

CONTOS MM: Linha de Impacto

 Olá, bagudos!


Preparei mais um conto de quebra-ovos entre homens. Espero que gostem!

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Linha de Impacto – Parte I

Caio chegou à sala com passos hesitantes. O ambiente era limpo, discreto, com poucos elementos além dos tatames claros, uma parede de espelhos e aquele silêncio que só existe em espaços onde o corpo fala mais alto do que a boca. Era a quarta aula do curso de autodefesa masculina — e, segundo o cronograma que todos tinham lido e comentado com risos abafados, carinhas e tudo mais no grupo de whatsapp da turma, hoje seria “aquela aula”: 👊🍒.

Eduardo, o instrutor, já estava lá. Alto, sereno, de olhar direto. Ele não parecia alguém que se satisfazia com a superfície das coisas. Usava uma camiseta escura e calças leves, como sempre. Seus braços cruzados denunciavam disciplina, mas seus olhos, sempre atentos, diziam que ali ninguém seria exposto — pelo menos não mais do que estivesse disposto a ser.

— Bom, moçada… — começou Eduardo, a voz firme, porém tranquila. — Não tem mais escapatória. Chegamos naquela aula.

Alguns riram. Aquele riso nervoso, masculino, que se ouve desde a adolescência sempre que o assunto toca naquela região proibida, sensível e evitada. Um empurrão de ombro aqui, um olhar cúmplice ali. “O golpe nos nossos… vocês sabem.” Eduardo sorriu de leve, permitindo o momento.

— Testículos. Saco. Ovos. Chamem como quiserem — disse ele, caminhando devagar entre os alunos. — Não é só dor. É simbólico. É biológico. E, na maioria das vezes, é tabu. Mas em defesa pessoal, ignorar um ponto fraco é o pior erro que você pode cometer.

Caio engoliu seco. Sentia o rosto esquentar. Mas também sentia outra coisa: curiosidade. Talvez até alívio. Porque pela primeira vez alguém estava falando disso como algo legítimo.

Eduardo se virou para o grupo.

— Eu acredito numa pedagogia da experiência. Vocês sabem disso. E essa é uma das poucas situações em que só entender com a mente não adianta. O corpo precisa reconhecer o que está em jogo. Precisa sentir — disse, olhando para um ponto qualquer no tatame. — Por isso, hoje vamos trabalhar em duplas.

Ele apontou para um banco onde estavam algumas coquilhas.

— Aqui estão as proteções. Usem se quiserem. Eu recomendo. Mas se alguém quiser experimentar com mais fidelidade, pode conversar com seu colega e ajustar a intensidade. A confiança aqui é fundamental. Isso — disse ele, apontando para o próprio peito — é treino entre homens. E homens entendem.

Silêncio. Nenhum desconforto visível, mas também nenhuma euforia. Só aquela tensão densa, cheia de significado.

Caio se virou para Rafael, que estava ao seu lado. O outro apenas assentiu com a cabeça, como se dissesse “bora”.

Mas antes que alguém se movesse, Eduardo tirou os tênis, foi até o centro do tatame e disse:

— Antes de começarmos… alguém se voluntaria a ser minha dupla? Quero demonstrar.

Todos se entreolharam. Rafael levantou a mão.

Eduardo assentiu. Ambos foram para o centro. Os alunos se sentaram ao redor, atentos. Não havia risos agora. Só olhos fixos, como se algo sagrado estivesse prestes a acontecer.

— Vamos com moderação — disse Eduardo. — O bastante pra mostrar o essencial.

Rafael se posicionou. Eduardo abriu um pouco as pernas, os braços para trás. E então veio o movimento: rápido, seco, preciso — mas controlado. Não foi teatral. Foi apenas real.

O corpo de Eduardo cedeu. Um joelho ao chão. A respiração cortada. O rosto tenso. Mas nada de gritos. Nada de exageros. Ele ficou ali, alguns segundos, dominando a própria reação.

E então se levantou, ainda com dificuldade, mas olhando para os alunos com uma expressão que misturava dor, firmeza e… um certo orgulho silencioso.

— É assim. A dor é inevitável. Mas ela ensina. Ela mostra onde somos frágeis. E isso, senhores, é o início da força.

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Linha de Impacto – Parte II

Caio olhou para Rafael. Estavam de pé agora, frente a frente, ambos com uma expressão mais séria do que gostariam de admitir.

— Vamos usar a coquilha? — Caio perguntou, quase num sussurro.

Rafael pensou por um instante e deu de ombros.

— Você decide. Se quiser sentir de verdade… eu seguro a mão.

Caio hesitou. A coquilha estava ali, ao lado, mas algo nele queria entender o que Eduardo tinha dito com tanta convicção. A dor ensina. Era estranho, mas fazia sentido. Um sentido que não passava pelo raciocínio — era mais primal, mais visceral.

— Vai sem — decidiu, engolindo em seco.

Rafael apenas assentiu.

Eduardo caminhava entre as duplas, atento, corrigindo posturas, sugerindo ângulos, e dando pequenas instruções com a voz calma de quem sabe o que está fazendo.

— Não é só mirar e bater — dizia ele. — Tem que ser preciso. Um golpe mal dado pode não ter efeito. Um golpe certeiro, mesmo sem muita força, desarma.

Caio respirou fundo. Rafael deu um passo leve para o lado, leu o corpo do colega, e então se moveu com velocidade contida. Um chute curto, direto, sem violência — mas com intenção.

A sensação foi imediata. Caio cambaleou. Não foi uma dor que se explicava, mas que reverberava — no estômago, nas pernas, nos pulmões. Rafael se aproximou, pronto para ajudar, mas Caio ergueu a mão, pedindo um momento.

— Tudo bem? — murmurou Rafael.

Caio assentiu, ainda respirando com dificuldade.

— É… é como se o corpo todo apagasse por dentro — conseguiu dizer, e sentou-se no tatame.

Eduardo se aproximou e se agachou ao lado dele.

— Isso é importante. Reconhecer. Saber como o corpo reage. Porque um dia, em uma situação real, você não vai poder cair. Vai ter que reagir. E isso aqui é o ensaio do instinto.

Os demais alunos continuavam treinando. Havia algo de respeitoso no silêncio que se mantinha. Quando os golpes acertavam, os corpos falavam — dobravam, tremiam, endureciam — e cada um que assistia absorvia, aprendia, como se aquela dor coletiva estivesse criando um entendimento novo, compartilhado.

Eduardo voltou ao centro.

— Alguém mais quer tentar sem proteção? — perguntou, com suavidade. — Lembrando que o foco é a confiança. Se não houver confiança, não há treino.

Mais mãos se ergueram, sem vergonha agora. O ambiente tinha mudado. Era como se ali, naquele tatame simples, os homens estivessem redescobrindo algo que raramente se permite entre eles: a exposição da fragilidade. E mais do que isso — o respeito por ela.

Depois de alguns minutos de prática silenciosa, Eduardo chamou todos para se sentarem em círculo.

— Agora quero ouvir vocês — disse. — Quem aplicou: o que sentiu ao ver a reação? Quem recebeu: como foi? Não quero respostas prontas. Só o que veio. Corpo, mente, emoção.

Caio foi o primeiro a falar. A voz ainda um pouco trêmula.

— Eu senti… uma coisa meio estranha. Um susto interno. E ao mesmo tempo, uma clareza. Tipo… “ok, agora eu sei de verdade o que isso significa”.

Rafael completou:

— Quando acertei, não senti prazer nem culpa. Foi mais… uma responsabilidade. Tipo: eu tenho o poder de fazer isso. E também o dever de só fazer quando for necessário.

Eduardo sorriu com os olhos.

— Exato. A gente cresce ouvindo piada sobre isso. Acha que é fraqueza. Mas é justamente aí que mora o perigo. E o poder. Essa aula é sobre isso.

Ele se levantou, caminhou até o centro, virou-se de costas e disse:

— Amanhã voltamos ao assunto. Mas o que vocês levaram daqui hoje… não está nos livros. Está no corpo. E vai estar com vocês pra sempre.

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Caminho da Superação: A Dor e a Vulnerabilidade

A sala estava quieta. O silêncio era mais profundo agora, carregado não de medo, mas de expectativa. Os alunos estavam mais tranquilos, mais conscientes de si mesmos. A aula anterior havia sido um ponto de partida para algo muito mais significativo do que eles haviam imaginado. Era mais do que apenas autodefesa; era sobre confrontar a própria vulnerabilidade, entender o que significava se expor e, principalmente, como lidar com a dor de maneira emocional e psicológica.

Eduardo, o instrutor, observou os alunos com um olhar atento. Ele sabia que, para avançar, precisava ajudar cada um deles a entender não apenas o impacto físico da dor, mas também o seu efeito emocional. Afinal, ninguém poderia realmente dominar a dor sem primeiro aprender a aceitá-la e compreendê-la.

— Hoje, vamos explorar o que acontece quando o corpo é exposto à dor — disse ele, com calma. — Não se trata de ser forte ou fraco, mas de compreender que, assim como qualquer outra sensação física, a dor é passageira. O importante é o que ela desperta em você.

Ele fez uma pausa, olhando para os alunos. Eles estavam em silêncio, mas não mais tensos. Já haviam experimentado o desconforto, agora estavam prontos para entender o que se escondia por trás da experiência.

— A dor no corpo pode ser profunda, mas é também um reflexo da nossa vulnerabilidade. Quando somos atingidos, o instinto é o de recuar. Mas e se, ao invés de fugir, você olhasse para essa dor de frente? O que ela pode ensinar? — continuou Eduardo. — Às vezes, o que chamamos de dor também pode ser visto como um ponto de transformação.

Um dos alunos, Rafael, levantou a mão. Ele tinha uma expressão pensativa.

— Eu… nunca pensei nisso dessa forma. Sempre vi a dor como algo que deveria ser evitado, mas agora entendo que, se souber lidar com ela, pode me ensinar algo sobre mim mesmo.

Eduardo sorriu, satisfeito com a reflexão.

— Exatamente, Rafael. Quando estamos expostos à dor, seja ela física ou emocional, ela nos obriga a parar e refletir. Ela nos força a questionar nossos limites, nossas crenças sobre nós mesmos. No caso de uma dor específica, como a causada nos testículos, muitos pensam imediatamente que é algo insuportável, que significa fraqueza. Mas, na verdade, é um convite para encontrar dentro de si uma nova força.

Ele fez uma pausa, e os alunos começaram a assimilar suas palavras. O objetivo da aula não era minimizar a dor, mas mudar a maneira como ela seria recebida e entendida.

— Agora, vou pedir que vocês se dividam em duplas novamente — disse Eduardo, com firmeza. — Mas, antes de aplicarem qualquer golpe, gostaria que pensassem em algo: como se sentiram ao ser atingidos na aula passada? O que aconteceu quando vocês sentiram a dor? Como reagiram não apenas fisicamente, mas emocionalmente?

As duplas se formaram rapidamente, e a sala estava mais quieta do que nunca. Cada aluno se preparava para reviver aquela sensação, mas com uma nova perspectiva. Eduardo pediu que cada um de seus alunos fosse honesto consigo mesmo, que refletisse sobre suas reações emocionais ao ser vulnerável. Ele sabia que esta era a chave: não se tratar da força para resistir à dor, mas da habilidade de compreender e crescer com ela.

Durante o exercício, as reações começaram a se tornar mais perceptíveis. Alguns alunos expressavam tensão nos rostos, enquanto outros pareciam mais focados, controlando melhor suas emoções. Quando finalmente chegou a vez de um aluno aplicar o golpe, Eduardo observou atentamente.

— Lembre-se — ele disse a eles —, não é sobre o impacto físico, mas sobre o controle e a consciência emocional. Quando você aplica o golpe, sinta-o. Quando recebe, aceite-o. O que está acontecendo dentro de você? Essa é a verdadeira lição.

Após alguns momentos de aplicação dos golpes e trocas de posições, a sala se acalmou novamente. Eduardo os reuniu para refletir sobre o que haviam vivenciado.

— O que vocês aprenderam hoje? — ele perguntou.

Um dos alunos, Caio, falou com a voz mais calma do que normalmente estava acostumado.

— Eu percebi que, quando fui atingido, minha reação inicial foi de fuga, mas depois de um tempo, percebi que, ao aceitar a dor, ela não me controlava mais. Eu consegui dominar minha mente. Não foi sobre não sentir dor, foi sobre não deixar que a dor me dominasse.

Outro aluno, Thiago, assentiu.

— Eu senti que, ao aplicar o golpe, não era só sobre acertar. Era sobre ser preciso, controlado. Eu sabia que a dor estava ali, mas a sensação de estar no controle da situação… isso foi mais forte do que a dor.

Eduardo sorriu com satisfação, apreciando o nível de compreensão que eles haviam alcançado.

— Isso é o que todos precisam entender — disse ele. — A dor não é o nosso inimigo. O medo da dor, sim. Quando você reconhece e aceita a dor, você toma posse dela. Quando você aprende a lidar com sua própria vulnerabilidade, você se torna mais forte, mais consciente, mais capaz.

Ele fez uma pausa e olhou para todos com seriedade.

— Nunca subestimem o poder da vulnerabilidade. Ela é o ponto de partida para qualquer tipo de crescimento pessoal, seja em defesa pessoal ou na vida.


Agora Caio e Thiago vão descobrir algo depois da aula...



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